e queria em cada verso o som da tua voz:
depois,queria que o poema tivesse a forma
do teu corpo,e que ao contar cada sílaba
os meus dedos encontrassem os teus,
fazendo a soma que acaba no amor.
Queria juntar as palavras como os corpos
se juntam,e obedecer à única sintaxe
que dá um sentido à vida; depois,
repetiria todas as palavras que juntei
até perderem o sentido,nesse confuso
murmúrio em que termina o amor.
E queria que a cor dos teus olhos e o som
da tua voz saíssem dos meus versos
dando-me a forma do teu corpo;depois,
dir-te-ia que já não é preciso contar
as sílabas nem repetir as palavras do poema,
para saber o que significa o amor.
Então,dar-te-ia o poema de onde saíste.
como a caixa vazia da memória,e levar-te-ia
pela mão,contando os passos do amor.
(Nuno Júdice)
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